Economia

PF indicia um dos homens mais ricos e poderosos do país por corrupção


PF indicia presidente do Bradesco em inquérito da Zelotes

 

SÃO PAULO (Reuters) – A Polícia Federal indiciou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, em relatório de inquérito ligado à operação Zelotes, informou nesta terça-feira o Ministério Público Federal do Distrito Federal.

A Zelotes investiga suspeitas de manipulação de julgamentos no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e o suposto pagamento de propina para a edição de medidas provisórias.

A notícia do indiciamento de Trabuco motivava forte queda das ações do segundo maior banco privado do Brasil na bolsa paulista.

Às 16:09, os papéis preferenciais do Bradesco recuavam quase 5 por cento, enquanto os ordinários perdiam mais de 3 por cento. No mesmo horário, o Ibovespa cedia 0,9 por cento.

Segundo a assessoria de imprensa do Ministério Público, outras nove pessoas foram indiciadas no mesmo inquérito de Trabuco pelos crimes de corrupção ativa e passiva, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O MPF não soube informar quais desses crimes foram imputados ao presidente do Bradesco.

Uma fonte a par do assunto disse à Reuters, sob condição de anonimato, que o vice-presidente do Bradesco Domingos Figueiredo Abreu e o diretor financeiro do banco, Luiz Carlos Angelotti, também teriam sido indiciados pela PF.

Em comunicado, o Bradesco informou que o banco não contratou os serviços oferecido por um grupo investigado na operação Zelotes e que Trabuco não participou de qualquer reunião com o grupo citado pelos investigadores.

O banco disse também que foi derrotado em julgamento no Carf por seis votos a zero e que apresentará seus argumentos juridicamente por meio de seus advogados.

Caberá agora aos procuradores do Ministério Público Federal do DF analisarem o relatório da PF para decidir se oferecem a denúncia contra Trabuco e os demais indiciados à Justiça.

Trabuco é o segundo presidente de uma importante instituição financeira do país a ter o nome citado em um escândalo de corrupção no último ano.

Em novembro do ano passado, André Esteves, fundador e então presidente do BTG Pactual, maior banco de investimento independente da América Latina, foi preso no âmbito da operação Lava Jato, mas foi posteriormente solto.

Luiz Carlos Trabuco

Desde 2009, Trabuco comanda uma das maiores instituições financeiras da América Latina, o Bradesco

Luiz Carlos Trabuco

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Luiz Carlos Trabuco

Luiz Carlos Trabuco

Trajetória de mais de quatro décadas e desempenho na Bradesco Seguros potencializaram o cartaz de Trabuco. Sua gestão tem se notabilizado pelo crescimento orgânico

Para muitos, Luiz Carlos Trabuco Cappi é mais do que um executivo; é integrante de uma mítica dinastia. Nos 70 anos de história do Bradesco, Trabuco é apenas o quarto homem a ocupar a presidência da instituição – linhagem iniciada pelo legendário Amador Aguiar. Desde 2009 em um cargo que é sinônimo incontestável de poder, tem a responsabilidade de comandar uma das maiores instituições financeiras da América Latina, com quase R$ 900 bilhões em ativos e aproximadamente 27 milhões de correntistas.Leia também: 

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Nascido em Marília – também a terra natal de Amador Aguiar –, Luiz Carlos Trabuco personifica uma espécie de jeito Bradesco de ser, com uma trajetória e estilo praticamente comum a todos os principais dirigentes do grupo. Formado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Paulo, com Pós-Graduação em Sócio-Psicologia na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Trabuco começou a trabalhar no banco em 1969, aos 18 anos de idade. Nas quatro décadas entre a sua chegada e a indicação à presidência, passou pelos mais diversos cargos. Em 1984, foi nomeado diretor departamental. Em 1998, tornou-se diretor executivo gerente. Um ano depois, era alçado à posição de diretor vice-presidente executivo. Em março de 2003, assumiu a direção da Bradesco Seguros, cargo no qual permaneceu até ser designado para a presidência do banco.

Na gestão de Trabuco, a Bradesco Seguros alcançou um patamar ainda mais alto. Em seis anos, a companhia mais do que duplicou seu tamanho, passando de R$ 32 bilhões de ativos em 2003 para R$ 78 bilhões no exercício de 2008. Já no primeiro ano completo da administração de Trabuco, a rentabilidade sobre patrimônio passou de 22% para 29% – ao longo do seu mandato, esta taxa nunca ficou abaixo dos 27%. A participação da Bradesco Seguros no resultado do grupo passou de 26% para 35%.

O desempenho da Bradesco Seguros potencializou o cartaz de Luiz Carlos Trabuco junto aos integrantes do conclave que elegeria o substituto de Marcio Cypriano. A responsabilidade era enorme, tanto para o eleito quanto para os eleitores. Sucessor de um dos mais respeitados banqueiros do país, Lázaro Brandão – que, depois de 18 anos, deixou a direção executiva do banco em 1999 –, Cypriano havia conduzido um dos maiores ciclos de expansão do Bradesco, por meio de sucessivas aquisições. Entre 2001 e 2004, a instituição fisgou o Banco Cidade, os Bancos do Maranhão e do Ceará, as financeiras Finasa e Zogbi, o braço de gestão de recursos do JP Morgan no país, além de todas as operações do Deutsche Bank e o BBVA no mercado brasileiro. Ou seja: o legatário de Cypriano teria pela frente a missão de levar adiante o processo de harmonização de diferentes culturas e idiomas bancários.

Durante o processo de sucessão, outros nomes foram cotados, como os do então vice-presidentes José Luiz Acar Pedro e Milton Vargas. Certamente, o fato de simbolizar a cultura Bradesco, com a sua trajetória de mais de quatro décadas na casa bancária, foi um dos passaportes que valeram a Trabuco o desembarque na presidência da instituição.

Crescimento orgânico

Depois desta longa temporada de aquisições, a gestão de Luiz Carlos Trabuco tem se notabilizado pelo crescimento orgânico. Encerrado o ciclo de expansão geográfica, o executivo assumiu o desafio de iniciar o ciclo de inclusão bancária, leia-se a busca da parcela da população à margem do sistema financeiro. Desde 2009, o banco passou de 20 milhões para 27 milhões de correntistas. Nos períodos de pico, são seis mil novas contas por dia. No mesmo período, o número de cadernetas de poupança saiu de 377 milhões para quase 50 milhões. Trabuco tem conduzido também o aumento da rede de atendimento. Em quatro anos, a instituição passou de 3,5 mil para quase cinco mil agências.

Neste sentido, Trabuco acompanha de perto cada novo indicador, cada dado sobre a mobilidade social brasileira. O próprio executivo já declarou a expectativa de que cem milhões de pessoas entrem no mercado de consumo até 2025. Sempre que cita o número, Trabuco tem a conta na ponta da língua. Significa dizer que o Bradesco, dono de um quinto do mercado bancário, vislumbra um potencial de 20 milhões de novos clientes a cruzarem as portas giratórias de suas agências.

As circunstâncias só reforçam a percepção de que Trabuco é o homem certo no lugar certo. O executivo é conhecido por sua forte atuação na área comercial. Sua passagem pela Bradesco Seguros apenas confirmou a vocação de “vendedor”, a mesma característica marcante que o acompanhou em alguns de suas principais missões no grupo. Trabuco desenvolveu a área de previdência privada, foi o diretor financeiro responsável pela emissão de ADRS na Bolsa de Nova York, e cuidou do marketing. Neste caso, o executivo assinou algumas das maiores ações já realizadas por todo o grupo, a mais notória delas a criação da já tradicional árvore de Natal da Lagoa, no Rio de Janeiro. Aliás, quando assumiu a presidência da Bradesco Seguros, Trabuco recebeu a incumbência de mudar a sede do Rio para São Paulo. Em poucos meses, convenceu seus pares de que a empresa deveria ficar onde estava, notadamente por razões econômicas.

Perfil discreto

Trabuco encarna o espírito Bradesco. Começou no banco como escriturário – aos 22, Amador Aguiar era contínuo de uma agência do Banco Noroeste em Birigui (SP); aos 16, Lázaro Brandão ocupava a mesma função na Casa Bancaria Almeida & Cia., que daria origem ao Bradesco. Costuma passar mais de 12 horas do seu dia no banco. É incapaz de qualquer declaração enviesada. É também absolutamente discreto e contido nos atos e gestos e não exibe qualquer sinal de ostentação – Amador Aguiar fazia questão de dirigir o próprio carro, um Fusca. Trabuco segue com rigor a liturgia do cargo.

Bem ao estilo da cultura Bradesco, Luiz Carlos Trabuco dá especial atenção às mais tradicionais e básicas práticas do atendimento bancário, ainda que diretamente, estas atividades não se revertam em rentabilidade. Ele costuma dizer que um dos desafios de uma instituição financeira é conhecer as pessoas de perto, seus valores, interesses, anseios, ainda que a prestação de serviços seja visto pelo setor como algo secundário, sem glamour. Mais uma vez, surge à lembrança Amador Aguiar, que costumava cumprimentar os clientes na agência e sabatiná-los sobre a qualidade do atendimento do banco.

Luiz Carlos Trabuco não toca no assunto. O Bradesco, muito menos. Mas até os escriturários da Cidade de Deus – entre eles, pode estar perfeitamente o presidente do banco em 2040 – sabem qual é a grande meta do executivo. Nada teria um sabor mais especial do que recuperar o posto de maior banco privado brasileiro, hoje pertencente ao Itaú. A disputa está no photochart. O Bradesco fechou o primeiro semestre com R$ 896 bilhões em ativos, o banco dos Setúbal, com R$ 1,06 trilhão.

Como não poderia deixar de ser, o presidente de um dos maiores bancos privados da América Latina tem uma relação de proximidade com a presidente Dilma Rousseff. No entanto, a interlocução permanente não se deve apenas à força do cargo. Os assessores mais próximos de Dilma são testemunhas do respeito e admiração que ela nutre pelo executivo, a quem ouve constantemente. Este encantamento subiu mais alguns degraus recentemente, quando Trabuco veio a público anunciar a concessão de crédito de longo prazo a empresas que investirem na construção de estradas no país. Certamente, a rodovia entre o presidente do Bradesco e o Planalto ficou ainda mais curta.


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