Sexta-Feira, 10 de Outubro de 2025 às 16:00:00
Ações como o Programa Ser Criança, as vilas temáticas, brinquedopraças e a Estação Acolher mostram que o Estado tem buscado transformar a preocupação mundial com o tempo de tela em iniciativas concretas de convivência e aprendizado











Com foco no equilíbrio digital e na promoção de uma infância saudável, o Governo de Sergipe tem implementado uma série de políticas públicas que estimulam o uso consciente das telas e o fortalecimento dos vínculos familiares. Ações como o Programa Ser Criança, as vilas temáticas, brinquedopraças e a Estação Acolher mostram que o Estado tem buscado transformar a preocupação mundial com o tempo de tela em iniciativas concretas de convivência e aprendizado.
A secretária de Estado da Assistência Social, Inclusão e Cidadania (Seasic), Érica Mitidieri, explica que a pauta do uso de telas na infância exige sensibilidade e ações conjuntas entre governo, escolas e famílias. “Nosso olhar é para quem está na ponta, como mães solo, pais exaustos, adolescentes hiperconectados. A orientação precisa caber na realidade: combinar horários, ativar controles parentais, conversar sobre o que se vê e priorizar a brincadeira, a leitura e o esporte. Equilíbrio digital não é proibir, é educar com empatia e limites que funcionam”, destacou.
Essa visão tem se refletido em uma série de políticas públicas que resgatam o valor do brincar e da convivência em família. O Governo de Sergipe tem estruturado políticas inovadoras voltadas ao desenvolvimento integral das crianças. De acordo com a diretora de Atenção Integral à Primeira Infância da Seasic, Helga Muller, desde o início da gestão, o governo tem se preocupado com a exposição das crianças às telas. A Política Estadual de Atenção Integrada à Primeira Infância – Ser Criança, criada em 2023, estruturou um plano estadual com seis eixos — um deles voltado especificamente ao mapeamento e ao uso de telas. “Dentro desse plano, ações como as vilas da Criança, da Páscoa e do Natal tiram as crianças de casa, mas de forma acompanhada por seus responsáveis, estimulando o brincar e o vínculo afetivo”, explicou.
Além das vilas, o Festival Vem Ser Criança e as brinquedopraças — como a recém-entregue em Propriá — têm levado espaços de lazer e convivência a diferentes municípios. Já a Estação Acolher, espaço de cuidado e proteção para catadores, ambulantes e suas famílias no Arraiá do Povo, se tornou referência ao oferecer atividades socioeducativas. “Esses espaços públicos mostram como as políticas podem inspirar novos hábitos. O brincar coletivo é um antídoto poderoso contra o isolamento e o uso excessivo das telas”, acrescentou Helga.
Letramento digital
O esforço do Estado com a educação digital vem sendo reforçado por ações em parceria com o Governo Federal, a exemplo do lançamento em Sergipe do ‘Guia para Usos de Dispositivos Digitais’. A publicação propõe orientações práticas para pais, professores e profissionais da rede de proteção, ajudando a reduzir os impactos do uso precoce de tecnologias. “O guia é uma ferramenta para toda a sociedade. Ele nos ajuda a entender o papel da família e da escola no processo educativo, reforçando que o brincar, o diálogo e o acompanhamento são fundamentais para o desenvolvimento infantil”, destacou a diretora.
Outra iniciativa que dialoga com esse propósito é o ECA Digital, que visa contribuir com a construção de um ambiente digital e midiático mais seguro para a primeira infância. A Lei 15.211/25, sancionada em 17 de setembro pelo Governo Federal, é um instrumento valioso para garantir a segurança das crianças na internet. “O documento é extremamente protetivo para a criança e cria uma agência dedicada ao tema, com pontos específicos que respeitam o movimento natural das crianças de estar junto às telas, mas de forma consciente”, ressaltou Helga.
A diretora da Primeira Infância orienta os pais e responsáveis sobre a importância de equilibrar o uso das telas, incentivar o brincar e a convivência real no dia a dia das crianças. “Entendo que quando estamos sozinhos ou no ócio precisamos de algo que nos conecte, creio que é isso que as crianças fazem. Minha grande sugestão é que, quando perceber que seu filho está muito ligado às telas, se reconecte com ele, entenda o brincar, saia mais, procure os parques, as praças, as praias. Temos muitas opções e quem dá o tom disso somos nós, pais responsáveis, pessoas que amam as crianças”, pontuou.
Envolvimento da sociedade
Além das políticas governamentais, a sociedade civil também tem se mobilizado para enfrentar o desafio do uso excessivo das telas. Um exemplo é o Movimento Desconecta, que surgiu nacionalmente a partir de um grupo de pais preocupados com o uso precoce de smartphones por crianças e adolescentes.
O movimento, formado por pais e educadores, propõe um pacto coletivo para retardar o acesso de crianças às redes sociais e estimular o letramento digital. “Queremos construir um acordo coletivo: nada de smartphones antes dos 14 anos e redes sociais antes dos 16 anos. Não somos contra a tecnologia, mas defendemos maturidade e equilíbrio. O que precisamos é ensinar as famílias a orientar e acompanhar”, explicou uma das líderes do Movimento Desconecta em Sergipe, Mirella Dornelas.
A psicóloga Renata Machado, também participante da iniciativa, observa que a rotina intensa das famílias tem contribuído para o uso do celular como uma “chupeta digital”. “Os pais estão exaustos, e o celular, muitas vezes, vira uma forma de silenciar a criança. Mas isso interrompe o desenvolvimento emocional e afasta o vínculo. O exemplo começa em casa e, se os pais se desconectarem mais, as crianças vão aprender a fazer o mesmo”, reforçou.
A pediatra Maria Eduarda Cunha, uma das líderes do Movimento Desconecta em Sergipe, ressalta os impactos do uso excessivo das telas. “O cérebro infantil está em formação, e o uso precoce de telas tem efeitos diretos na fala, na visão, na saúde cardiovascular e emocional”, enfatizou.
Vila da Criança
Essas mobilizações ecoam nas ações do Governo de Sergipe, que tem criado espaços voltados ao brincar e à convivência. Um dos exemplos mais marcantes dessas políticas de ofertar opções além das telas é a Vila da Criança, que está sendo realizada na Orla da Atalaia, que oferece teatro, cinema, brinquedos acessíveis, minicidade e até uma arena gamer voltada ao uso responsável da tecnologia. Integrada ao Programa Ser Criança, a iniciativa incentiva o contato entre gerações e o equilíbrio entre o mundo digital e o real.
De acordo com a diretora de Atenção Integral à Primeira Infância da Seasic, a vila mostra que é possível conviver com a tecnologia de forma saudável. O mais importante é oferecer experiências reais de afeto e convivência. Para ela, a transformação desse cenário depende da união de forças. “Acreditamos que existem três caminhos para mudar essa realidade: o individual, com a conscientização das famílias; o coletivo, com o pacto social proposto pelo movimento; e o institucional, com o poder público implementando políticas e espaços que resgatem o brincar livre. A Vila da Criança é um exemplo vivo dessa integração”, destacou.
Mirella Dornelas explicou, também, que o Movimento Desconecta já vem promovendo eventos em Sergipe, estimulando o brincar ao ar livre e fora das telas. “Estudos mostram que isso traz crescimento para a criança. Então, iniciativas como a Vila da Criança são importantes porque vão ao encontro do que o movimento defende, que é oferecer momentos para que as crianças brinquem fora das telas. A criança não precisa de muita coisa. Ela precisa de um espaço seguro para brincar”, concluiu.