Aracaju, 21 de novembro de 2024

Logo Diário Brasileiro

GOVERNADORES DE DIREITA ARREBENTARAM COM BOLSONARO

Compartilhe:

nikolas-bolsonaro-e-michelle

Bolsonaro perde embate com governadores de direita, e PL sai derrotado em sete de nove capitais no segundo turno
Na avaliação de pesquisadores, aliados do ex-presidente que se afastaram da polarização acabaram mais bem-sucedidos
Por Bernardo Mello — Rio de Janeiro
28/10/2024 03h30 Atualizado há 11 minutos

Facebook
Twitter
BlueSky
Whatsapp
O ex-presidente Jair Bolsonaro vota no primeiro turno em seção eleitoral na Vila Militar, Zona Oeste do Rio
O ex-presidente Jair Bolsonaro vota no primeiro turno em seção eleitoral na Vila Militar, Zona Oeste do Rio — Foto: Alexandre Cassiano/O Globo

Depois de o PL ter despontado como a sigla mais envolvida em segundos turnos nas capitais, o ex-presidente Jair Bolsonaro registrou ontem derrotas em sete das nove cidades que seu partido disputava, incluindo locais onde se empenhou diretamente nesta reta final, como Belo Horizonte, Goiânia e Palmas. A lista de reveses inclui ainda Curitiba, onde Bolsonaro hipotecou seu apoio a Cristina Graeml (PMB), embora o PL formasse a chapa de Eduardo Pimentel (PSD), que acabou eleito com larga vantagem.

Clima em BH: Véspera de eleição teve tensão no QG de Fuad com ataques de bolsonaristas nas redes e temporal na capital mineira
Após vencer em Cuiabá: Candidato de Bolsonaro ameniza tom, prega união de forças e diz que problemas atingem ‘esquerda e direita’

As vitórias do PL em Aracaju e em Cuiabá, além do desempenho expressivo em Fortaleza, sugerem, na avaliação de pesquisadores, que os bolsonaristas que conseguiram se afastar da polarização nacional e ampliar alianças no segundo turno acabaram mais bem-sucedidos do que quem redobrou a aposta numa plataforma mais à direita.

Uma das derrotas mais emblemáticas de Bolsonaro ocorreu em Goiânia, onde Fred Rodrigues (PL) surpreendeu prognósticos e terminou o primeiro turno à frente de Sandro Mabel (União). O ex-presidente mergulhou de cabeça na campanha de Rodrigues e o acompanhou ontem durante a votação, mas não impediu uma derrota de virada para Mabel. Um cenário similar ocorreu em Palmas, cidade visitada por Bolsonaro no sábado, e onde Janad Valcari (PL) acabou superada por Eduardo Siqueira Campos (Podemos).

Pauta de costumes
Nos dois casos, os bolsonaristas pouco ampliaram suas votações na segunda rodada, enquanto seus adversários chegaram a quase dobrar os próprios desempenhos. Para a cientista política Fernanda Cavassana, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), “o discurso bolsonarista pautado em valores” ajudou a levar aliados do ex-presidente para o segundo turno, mas “não dá conta de administrar a cidade” por si só.

— As campanhas de prefeituras usualmente se pautam por temas do dia a dia das pessoas, e os políticos tradicionais se ancoram no discurso de conhecer esses problemas. Os candidatos bolsonaristas que dialogaram mais com as lideranças locais se mostraram menos “perigosos” — afirmou Cavassana.

Um desses exemplos foi Cuiabá, onde o deputado Abilio Brunini (PL), um dos nomes mais alinhados ao bolsonarismo “raiz” no Congresso Nacional, superou no segundo turno o petista Lúdio Cabral (PT). No segundo turno, Abilio levou para seu palanque o governador Mauro Mendes (União), que havia apoiado outro candidato na rodada inicial. Apesar do histórico de ataques mútuos entre Abilio e Mendes, o governador justificou seu apoio dizendo que o bolsonarista “amadureceu”.

O ex-presidente Jair Bolsonaro e a candidata à prefeitura de Curitiba, Cristina Graeml (PMB) — Foto: Reprodução/Instagram
O ex-presidente Jair Bolsonaro e a candidata à prefeitura de Curitiba, Cristina Graeml (PMB) — Foto: Reprodução/Instagram
Além de Cuiabá, a única outra vitória do PL no segundo turno ocorreu em Aracaju, onde Emilia Corrêa (PL) adotou um discurso conservador, mas sem levar Bolsonaro à campanha — já a capital mato-grossense foi visitada pelo ex-presidente na semana passada. Candidatos do PL acabaram derrotados em outras três capitais — Belo Horizonte, João Pessoa e Manaus — que tiveram passagens do ex-presidente na reta final. Na capital mineira, lideranças nacionais do PL e do Republicanos chegaram a tentar atrair o apresentador de TV Mauro Tramonte (Republicanos), terceiro colocado, para o palanque do bolsonarista Bruno Engler. A conversa, porém, não evoluiu, e Engler acabou derrotado pelo prefeito Fuad Noman (PSD), que dobrou sua votação mesmo sendo acusado falsamente por bolsonaristas, na reta final, de endossar “pedofilia”.

Outro revés ocorreu em Belém, onde Éder Mauro (PL) já havia chegado ao segundo turno em desvantagem para Igor Normando (MDB).

A cientista política Marcia Ribeiro Dias, professora da Unirio, observa que Bolsonaro apostou em quedas de braço com os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), e acabou derrotado. Na capital paranaense, Cristina Graeml abraçou o discurso de valores caros ao ex-presidente, enquanto seu adversário focou em aspectos de gestão e se esquivou da disputa nacional.

Nikolas Ferreira, Bolsonaro e Michelle com Bruno Engler em motociata por Belo Horizonte neste sábado (19/10) — Foto: Reprodução/Instagram Michelle Bolsonaro
Nikolas Ferreira, Bolsonaro e Michelle com Bruno Engler em motociata por Belo Horizonte neste sábado (19/10) — Foto: Reprodução/Instagram Michelle Bolsonaro
— Onde Bolsonaro comprou a candidatura, perdeu, como em Curitiba e Goiânia. Parece ter havido uma tendência geral de rejeição à polarização, e mais focada nas forças locais — disse a pesquisadora.

Já em Fortaleza, apesar do revés, o bolsonarista André Fernandes (PL) fez uma disputa parelha com o petista Evandro Leitão, decidida por menos de 1%. Fernandes, embora seja conhecido por abraçar o discurso bolsonarista radical, procurou suavizar a imagem e fez campanha no segundo turno ao lado do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), seu antigo adversário.

— Há uma emergência de novas forças de direita, com cisões até mesmo na sua facção mais radical, mas que tendem a amparar candidaturas estaduais e nacionais em 2026 — avaliou o cientista político José Álvaro Moisés, da USP.