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Brasil e Argentina assinam hoje acordo sobre gás de Vaca Muerta; entenda

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TUBULAÇÃO DE GÁS

Ampliação das importações de gás natural argentino vai baratear preço do insumo para entre US$ 7 e US$ 8, cerca de metade do que custa hoje
Por Rafaela Gama — Rio de Janeiro
18/11/2024 04h00 Atualizado há uma hora

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O gasoduto Brasil-Bolívia é uma das opções para trazer o gás da Argentina, mas o insumo poderá chegar também via GNL
O gasoduto Brasil-Bolívia é uma das opções para trazer o gás da Argentina, mas o insumo poderá chegar também via GNL — Foto: Diego Giudice / Bloomberg News
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O Brasil deve assinar nesta segunda-feira com o governo Javier Milei um acordo para ampliar as importações de gás natural argentino e, assim, baratear o custo do insumo, informou no domingo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. O acordo será firmado em paralelo às reuniões dos chefes de Estado do G20, que ocorrem no Rio.

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O objetivo é abrir rotas alternativas para trazer ao país o gás de Vaca Muerta, megacampo hoje subaproveitado na Argentina. A expectativa do governo brasileiro é que, já no início do ano que vem, o acordo viabilize a importação de 2 milhões de metros cúbicos por dia (m³/dia) de gás argentino.

Esse montante cresceria paulatinamente para 10 milhões de m³/dia nos próximos três anos. Até 2030, chegaria a 30 milhões de m³/dia. O mercado brasileiro consome atualmente de 70 milhões a 100 milhões de metros cúbicos por dia (m³/dia).

— Nós queremos aumentar a oferta de gás no Brasil e, consequentemente, diminuir o preço. Isso porque nós precisamos, além de tratar o gás como uma energia de transição, aumentar o volume para diminuir o preço e reindustrializar o Brasil — afirmou Silveira ao GLOBO.

Cinco rotas possíveis
De acordo com o ministro, no entendimento com a Argentina estão previstas cinco rotas possíveis para o envio do gás ao Brasil. A primeira delas é o aproveitamento da estrutura do Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol).

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Conforme O GLOBO noticiou em abril, o governo já estudava com a Argentina a possibilidade de inverter o fluxo do Gasoduto Norte, do país vizinho, para enviar gás argentino em direção à Bolívia e, de lá, aproveitar a estrutura do Gasbol para entregar o insumo ao mercado brasileiro.

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Hoje, o Gasbol está subaproveitado, já que a produção de gás da Bolívia está em declínio. Atualmente, os bolivianos só enviam ao Brasil 15 milhões de m³/dia, quando deveriam entregar 30 milhões m³/dia.

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A outra rota possível é a construção de um sistema que atravessaria a região do Chaco paraguaio, o que demandaria um estudo para verificação da viabilidade.

Gás da Argentina pode chegar no Brasil através de novas redes de gasoduto — Foto: Arte o GLOBO
Gás da Argentina pode chegar no Brasil através de novas redes de gasoduto — Foto: Arte o GLOBO
A terceira opção seria conectar diretamente a rede de gasodutos argentina ao município de Uruguaiana (RS). Mas isso depende da conclusão da segunda parte do Gasoduto Néstor Kirchner, na Argentina, que liga a região de Vaca Muerta, a partir da província de Buenos Aires, até a cidade gaúcha.

Como O GLOBO mostrou em abril, seria também necessário, nessa rota, concluir a ligação do gasoduto entre Uruguaiana e Porto Alegre, obra inclusive prevista no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). E ainda seria preciso adaptar o Gasbol para que se tornasse uma “via de mão dupla”.

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A quarta rota em estudo seria uma conexão via Uruguai. E, por último, há também a possibilidade de converter o insumo em gás natural liquefeito (GNL), para exportação via navios — mas isso resultaria em um custo maior para o produto.

Menor custo
A expectativa do governo é que o gás do megacampo de Vaca Muerta, que custa US$ 2 por milhão de BTUs (unidade de referência nesse mercado) na Argentina, chegue ao Brasil por entre US$ 7 e US$ 8. Atualmente, o preço praticado no mercado brasileiro é em média de US$ 13,82 por milhão de BTUs, de acordo com o setor industrial.

As obras de reversão do fluxo no gasoduto que liga Vaca Muerta, que fica no Sul da Argentina, até o Norte do país, ou seja, até o gasoduto Brasil-Bolívia, devem ser concluídas em março de 2025. Essa previsão foi feita pelo secretário de Energia da Argentina, Eduardo Javier Rodríguez Chirillo, em setembro, quando veio ao Rio para a feira do setor de petróleo ROG.e.

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Ele destacou que a Argentina passa por um processo de transição regulatória e precisa considerar aspectos como preços e demanda interna antes de definir quanto será enviado para o Brasil.

Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, o Brasil produziu 130 milhões de metros cúbicos (m³) de gás natural por dia em 2023. Entretanto, cerca de metade desse volume, o equivalente a 70 milhões de m³, foi reinjetado, ou seja, voltou para os poços.

Outros 20 milhões de m³ não são comercializados no mercado brasileiro devido à queima, a perdas e ao consumo nas próprias plataformas. Com isso, sobram 40 milhões de m³.

Reeleição de Trump e transição energética
Silveira também falou ontem sobre o impacto da reeleição de Donald Trump em futuras negociações relacionadas à transição energética, que para ele representariam “uma necessidade climática e uma oportunidade econômica”.

De acordo com o ministro, o republicano será “uma voz forte, mas isolada”, na medida que o cenário global discute soluções ligadas à economia verde:

— Aqueles que não apostarem nessa economia vão perder de uma forma ou de outra — afirmou.

Aposta no urânio
Perguntado sobre a atuação de outros líderes mundiais na questão climática, Silveira destacou a posição adotada pela primeira-ministra italiana, Georgia Meloni. Ela já anunciou a intenção de investir na geração de energia nuclear, considerada limpa por não emitir gases do efeito estufa.

Diante disso, Silveira disse que tem discutido a possibilidade de o Brasil se tornar um fornecedor de urânio.

— Nós temos uma outra Petrobras enterrada. Com somente 27% do solo brasileiro conhecido, nós já somos a sétima maior reserva do mundo de urânio. Se nós tivermos mais pesquisas geológicas, eu tenho absoluta certeza que o Brasil ficará entre as três maiores reservas.

(Colaborou Bruno Rosa)