Tototós resistem à modernidade e canoeiros pedem apoio financeiro, para não acabar esta tradição secular
Há vários séculos que as canoas fazem o transporte de passageiros da Ilha de Santa Luzia para Aracaju. No início era a única forma de chegar até a capital de Sergipe, de forma rápida e enxuto. Com a modernidade as canoas de motor ou tototós como passaram a ser denominadas, por causa do barulho que o maquinário faz, continuam resistindo e quem quiser uma travessia nostálgica e até mesmo aventureira, dependendo do “humor” do rio Sergipe, pode chegar ao continente ou sair dele para a Ilha de Santa Luzia (Barra dos Coqueiros), pagando apenas R$ 1,00.
Com a construção da ponte sobre o rio Sergipe, permitindo chegar até a Barra dos Coqueiros de ônibus, táxis e outros veículos, as tototós perderam o atrativo e mesmo o preço da passagem não consegue sensibilizar parte da população da ilha para utilizá-las.
Vai morrer a tototó? Não. Ela se tornou um patrimônio cultural de Sergipe e muitos lutam para preservá-la, por uma questão de sobrevivência e mesmo pelo romantismo.
Em 2006, com a inauguração da ponte e a desativação, paulatinamente, das lanchas, as tototós ficaram únicas, na travessia do rio Sergipe, mas veio a concorrência dos ônibus e a procura diminuiu drasticamente, mesmo sendo rápidas, porque podem durar de quatro a dez minutos, dependendo da potência do motor e tamanho da embarcação.
A menor canoa transporta 26 pessoas e a maior pode embarcar até 70 passageiros. Quem transportava mil pessoas, diariamente, hoje não consegue cem e isso diminui bastante o ganho.
Pedro Henrique Almeida, dono de uma das canoas, diz que transporta de 100 a 110 passageiros e trabalha em dias alternados.
Mas nem todos abandonaram as tototós como é o caso do marítimo Edenilson dos Santos que diz que a passagem de ônibus é muito cara e a tototó é rapidinha e custa apenas R$1,00 e o ônibus custa R$ 2,35, enquanto que o táxi “lotação” de R$ 2,00 a R$ 2,50.
Segundo a vice-presidente da Associação dos Canoeiros de Barra dos Coqueiros, Maria Almeida (Maria de Pedro da Canoa), uma pesquisa identificou que mais de 1.500 pessoas preferem as tototós, para chegar até Aracaju.
Elas utilizam que gostam e amam as tototós e muitas garantem que jamais vão deixar de utilizar às canoas na travessia para a capital e voltar.
A deputada estadual Ana Lúcia de Menezes, PT, conseguiu aprovar uma lei na Assembleia do Estado de Sergipe, que consagra as tototós como patrimônio cultural e histórico de Sergipe e muitos decidiram reformar algumas das 23 canoas e seis ficaram como nova.
Maria Almeida assegura que parte da população não quer que o patrimônio afunde e é preciso revitalizar e para muitos é uma questão de sustentabilidade.
Pedro Henrique entende que reforma da embarcação não resolve o problema, porque é preciso construir atracadouros em Aracaju e Barra dos Coqueiros, para que os passageiros se sintam seguros e não botem os pés na lama, para o embarque e desembarque. (Por Cláudio Botafogo Messias)