Apagões dão prejuízo de milhões de dólares ao País
Apagões mobilizam debates na primeira semana de trabalho na Câmara
Segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura, de janeiro de 2011 até 4 de fevereiro deste ano, já foram registradas 181 falhas no fornecimento de energia no País.
As recentes interrupções no fornecimento de energia, que chegaram a atingir simultaneamente 13 estados e o Distrito Federal na última terça-feira (4), estiveram entre os principais temas em debate no Plenário da Câmara dos Deputados na semana de reabertura dos trabalhos legislativos. De um lado, a oposição criticou o governo pelo que considera falha no planejamento energético do País. Do outro, deputados da base aliada questionaram os argumentos e reforçaram a solidez do sistema.
O deputado Cláudio Cajado (DEM-BA) quer que a Câmara chame as autoridades do setor a fim de esclarecer se há risco de racionamento e explicar o planejamento para a área, especialmente quanto ao aumento do consumo de eletricidade e à queda na oferta em períodos de forte seca como agora, com reflexos nos reservatórios de usinas hidrelétricas.
“Acho que o governo está pautando suas ações muito em função do processo eleitoral que vai se iniciar neste ano em detrimento da condição de ter o foco no fato real do problema que estamos enfrentando na área energética neste momento. Isso diz respeito não apenas a uma questão séria do ponto de vista econômico para o setor produtivo nacional, mas acima de tudo para os consumidores, que acreditaram no Brasil e aumentaram seu consumo de energia elétrica.”
Mas, para o deputado Fernando Ferro (PT-PE), é a oposição que está aproveitando falhas pontuais para antecipar a disputa eleitoral. Segundo ele, os blecautes precisam ser investigados, mas, no geral, o sistema é eficiente.
“Até porque o Brasil, diferentemente da mentira que está sendo dita pela oposição, investiu em expansão do setor elétrico. Nós, em média, estamos construindo 3 mil quilômetros de linhas de transmissão por ano, quando no governo tucano eram cerca de 1,5 mil quilômetros por ano. Na área de expansão, há novos empreendimentos para entrar [em funcionamento], como Jirau, Santo Antônio e a própria usina de Belo Monte, além da expansão do parque de energia térmica, que, numa situação como esta em que estamos vivendo, garante o suprimento de energia.”
Leilões regionais
Segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura, de janeiro de 2011 até 4 de fevereiro deste ano, já foram registradas 181 falhas no fornecimento de energia no País. Em entrevista ao programa da Rádio Câmara Com a Palavra, o diretor do centro, Adriano Pires, disse que, ao privilegiar leilões nacionais de energia, o modelo atual amplia a dependência de linhas de transmissão mais extensas e, consequentemente, mais sujeitas a falhas e também a problemas jurídicos e de licenciamento.
Adriano Pires sugeriu a adoção de leilões regionais, que considerem as peculiaridades de fontes energéticas de cada região, como a biomassa no Sudeste e Centro-Oeste, a eólica no Nordeste, o carvão no Sul e a hidreletricidade no Norte.
“É um absurdo, para um País que tem essa diversidade energética e dispersão regional tenha uma das energias elétricas mais caras do mundo e que todo ano a gente fique discutindo no rádio, na televisão e nos jornais se vai ter ou não apagão. Quer dizer, tem alguma coisa errada. E tem que contar para a população que energia é cara e escassa. A gente tem que ter o uso racional deste produto.”
O Ministério de Minas e Energia, ao longo da semana, procurou reforçar que o Sistema Interligado Nacional está em equilíbrio e operando de acordo com o planejamento.
O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (NOS), Hermes Chipp, não descartou que raios podem ter originado o curto no sistema e, em seguida, o blecaute. Em nota, a presidente Dilma Rousseff disse que, se as descargas elétricas foram realmente as responsáveis pela queda no fornecimento de energia, cabe ao ONS apurar se os operadores estão mantendo adequadamente a rede de para-raios. Segundo a presidente, o sistema brasileiro foi montado para ser à prova de raios.
Um relatório conclusivo sobre as falhas deve sair em até 15 dias, segundo o ONS.